Crítica Eclipse
Por: Henrique Marino
Finalmente a Saga parece ter encontrado o seu tom; conquistou aquela consistência que tanto lhe faltava e reparou alguns erros que eram, no mínimo, risíveis, como os efeitos especiais e certas cenas constrangedoras pela falta de senso – de ridículo – da direção. Tudo indica que a série subiu ao patamar dos blockbusters
David Slade, o terceiro diretor a pôr as mãos na seqüência, conseguiu unir naturalidade com ficção – o que passou longe em Crepúsculo – e deu fluidez às tramas, que agora se misturam num vai e vem mais harmônico. O diretor, que vinha trabalhando com thrillers, saiu-se bem nesse gênero tão diferente, e acabou por imprimir uma pinta bastante hollywoodiana ao drama meloso de Bella e Edward, que sofria seriamente nas más adaptações.
O novo roteiro mescla romance, ação e comédia nos momentos certos. É a composição desses elementos, bem distribuídos na linha do tempo, que torna a película mais ágil. A ação, agora com um suporte melhor de efeitos especiais, é mais aceitável, além de ter um desenvolvimento próprio e delicado. A trama se propõe a contar como Victoria arma um exército de novos-vampiros para matar Bella numa tentativa de vingar-se de Edward; em defesa da protagonista, os Cullen e a alcatéia de Jacob se unirão. Essa é a linha da história que anima ao roteiro e que faltava, ao menos nesta mesma intensidade, nos outros dois filmes da saga.
O humor aparece tímido, mas, pouco forçado, suaviza a difícil história e é capaz de conquistar alguns sorrisos – outra falta das demais produções.
Acima de tudo, mas agora bem dosado, temos o romance de Bella e Edward, com a interferência cada vez mais marcante de Jacob, que luta pelo amor da protagonista e completa o triângulo amoroso. A bifurcação entre os dois garotos se faz notória neste capítulo, e denuncia o discurso da autora sobre amor. Jacob é posto como uma opção fácil e de comodidade, até mesmo mais carnal, mas é por Edward que Bella está irremediavelmente apaixonada, e ele representa a retomada daquele velho amor romântico, de cortejo e abstinência sexual; também traz consigo o símbolo da relação difícil e que precisa ser construída aos poucos, visto que há grandes diferenças entre o casal. É interessante pensar que ainda existe espaço para essa romanização, apesar de inserida numa obra antenada na cultura atual.
Ainda no núcleo das relações da protagonista, a crítica tem questionado a rivalidade que a personagem é capaz de criar entre os dois monstrinhos lindos, mesmo sendo ela uma adolescente antipática e insossa. Observando a questão mais a fundo, percebo que parte do sucesso da Saga advém dos defeitos da protagonista: se ela fosse tão virtuosa quanto a crítica reivindica, seria impossível para uma adolescente, em toda sua insegurança a respeito das relações sociais e amorosas, identificar-se com qualquer personagem da trama. As qualidades de Bella são, antes de tudo, um diálogo em tons de autoajuda entre público e autora.
O filme apresenta progresso em relação aos anteriores, mas ainda falamos da Saga Crepúsculo. Isso é um aviso, na verdade, para quem leu a crítica até este ponto. O progresso é recorrente do desenvolvimento desses três filmes, mas, de modo algum, podemos elevar demais esta obra. Para quem acompanha a séria cinematográfica apenas para se manter atualizado, mas não gostava do que era feito, deve estar ciente de que a essência da história não muda e, portanto, os problemas, nesse quesito, continuam presentes. A maturidade – justificada pelo público alvo – ainda é bastante prejudicada; a direção também não é perfeita, erra a mão em determinadas cenas, principalmente na execução do tempo e exagera nos clichês; também os artifícios do roteiro são claros a um olhar mais perscrutador. Deste modo, deixo sobreavisos os que se empolgaram com as críticas positivas.
Henrique Marino
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